Fertilidade é a capacidade do indivíduo ou do casal de gerar um outro ser humano. São pessoas férteis aquelas que concebem filhos em até 12 meses de tentativas. Neste sentido, para que um casal consiga conceber um filho naturalmente, é preciso que tanto o homem quanto a mulher sejam considerados férteis.
Portanto, a fertilidade feminina depende da mulher ter útero, trompas e ovários funcionais, ciclos menstruais normais e não apresentar problemas hormonais. Já a fertilidade masculina necessita que o homem seja capaz de produzir espermatozóides em quantidade e qualidade suficientes, além de conseguir ejacular.
A concepção resulta de um evento complexo, que se inicia com o encontro dos gametas femininos e masculinos. O resultado da fusão do espermatozóide com o óvulo, é a formação do zigoto, uma célula capaz de gerar a vida.
A concepção é um processo complexo que depende de muitos fatores:
- Produção de espermatozoides saudáveis pelo homem e óvulos saudáveis pela mulher;
- Trompas de falópio desbloqueadas que permitem que os espermatozoides cheguem ao óvulo;
- A capacidade do espermatozóide de fertilizar o óvulo quando se encontram;
- A capacidade do óvulo fertilizado (embrião) de se implantar no útero da mulher;
- E qualidade de embrião.
Finalmente, para que a gravidez prossiga até o termo, o embrião deve estar saudável e o ambiente hormonal da mulher adequado para seu desenvolvimento.
Quando apenas um desses fatores é prejudicado, pode ocorrer infertilidade.
Um casal em idade reprodutiva, considerado saudável, que não apresenta nenhum problema de fertilidade, tem uma chance de, aproximadamente, 17% a 20% de engravidar, por cada ciclo fértil feminino.
Para a maioria dos casais a possibilidade de engravidar de forma natural chega a 92% dos casos, segundo cálculos estatísticos e epidemiológicos, considerando um período de até 12 meses de vida sexual ativa e sem contracepção.
Mas as mulheres se tornam menos férteis à medida que envelhecem.
A chance de engravidar conforme a idade da mulher:
- De 19 a 26 anos – 92% conceberá após 1 ano e 98% após 2 anos
- De 35 a 39 anos – 82% conceberão após 1 ano e 90% após 2 anos
Figura 1: Uma mulher saudável de 30 anos tem cerca de 20% de chance de engravidar a cada mês. Uma mulher saudável de 40 anos tem cerca de 5% de chance de engravidar a cada mês. Fonte: https://www.reproductivefacts.org/resources/infographic-gallery/ (4)
Confira a variação das probabilidades de gravidez de acordo com a faixa etária da mulher:
- Até os 20 anos, essa chance é de 25% por mês;
- Mulheres entre 21 e 30 anos passa para 20%;
- Faixa de 31 a 35 anos, a porcentagem é de 15%;
- Mulheres entre 36 e 39 anos, cai para 10%;
- Entre 40 e 44 anos, 5%; e
- Mulheres com 45 anos ou mais, as chances não chegam a 3%.
Quanto tempo normalmente é necessário para engravidar?
O tempo necessário para engravidar é diferente para cada mulher. Algumas mulheres engravidam rapidamente, enquanto outras demoram mais. Isso pode ser perturbador, mas é normal.
Segundo um estudo de 2003, publicado no periódico Human Reproduction, para um casal fazendo sexo desprotegido, isso geralmente demora seis meses. Se após um ano tentando os testes derem negativo, o casal é considerado infértil. (2)
Em geral, quando a mulher possui até 35 anos de idade, as chances de gravidez após 3 meses de tentativa são, em média, de 57%. Quando esse tempo passa para 6 meses de tentativa, essa chance de engravidar aumenta para 72%. Após 1 ano de tentativas, as chances de sucesso chegam a 85%. (2)
Muitos fatores podem afetar as chances de um casal conceber, tais como:
- A idade
- Escolhas de estilo de vida, condições médicas e sua saúde geral e bem-estar.
- A saúde reprodutiva
- A frequência de relações sexuais
Existe uma frequência de relações sexuais ideal?
Fazer sexo regularmente significa fazer atividade sexual a cada 2 a 3 dias durante o mês.
Alguns casais podem tentar manter relações sexuais com este padrão durante o período fértil da mulher , ou janela fértil (quando ela libera um óvulo (a ovulação). (3)
A frequência de relações sexuais que aumenta a probabilidade de conceção durante o ciclo é, de uma forma geral, duas a três vezes por semana pouco depois de acabar a menstruação até à ovulação. Uma frequência menor limitará as probabilidades de concepção.
Casais com relações sexuais todos os dias ou cada dois dias durante o período fértil terão ainda maior probabilidade de gravidez. De uma forma geral, a ejaculação cada 2 dias melhora também os parâmetros médios do esperma, mantendo a sua qualidade ótima em cada relação sexual. Este fato parece aumentar a fertilidade masculina, ainda que de forma ténue.
Problemas de fertilidade
Os problemas de fertilidade afetam 1 em cada 6 a 7 casais.
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que 15% dos casais que estão tentando engravidar no mundo apresentam dificuldades em conceber. (5)
Ingerir bebidas alcoólicas, fumar, não praticar atividades físicas ou praticá-las com muita intensidade, dormir pouco, tomar muito café e ter uma dieta desequilibrada são hábitos com impacto importante na fertilidade de homens e mulheres em idade reprodutiva e que podem determinar, inclusive, se alguém poderá ou não ter filhos biológicos.
De acordo com a OMS, a infertilidade afeta de 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo e, somente no Brasil, esse número chega a cerca de 8 milhões. Em boa parte dos casos, o estado nutricional inadequado e a manutenção de hábitos não saudáveis têm grande influência na redução da capacidade reprodutiva de homens e mulheres.
Hábitos de vida e fertilidade
No caso das mulheres, o sobrepeso ou a desnutrição podem afetar diretamente sua função reprodutora. Isso acontece devido ao desequilíbrio hormonal provocado por estes comportamentos, que acaba determinando uma disfunção nos ovários. Nos homens, a obesidade pode diminuir tanto a quantidade quanto a qualidade dos espermatozoides, interferindo também com os níveis de testosterona.
Além de hábitos alimentares, o sono pode ser responsável pela infertilidade de um casal. Apesar de não diminuírem os níveis de testosterona, distúrbios do sono estão associados à diminuição na quantidade de espermatozoides. Na fertilidade feminina, a alteração do sono pode ativar hormônios das glândulas suprarrenais e gerar mudança da produção de hormônios reprodutivos. Além disso, dormir pouco pode levar o sistema imunológico a se voltar contra tecidos e órgãos saudáveis, causando uma inflamação, que acaba afetando a fertilidade.
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas é outro fator que pode influenciar na função reprodutiva de um casal. Embora não exista nenhum estudo conclusivo sobre o assunto, a recomendação para as mulheres é que o consumo de álcool seja cortado durante o período pré-concepcional, devido às consequências que podem produzir danos ao embrião.
A relação da ingestão excessiva de álcool e infertilidade dos homens também é inconclusiva, mas é possível perceber efeitos nocivos desse consumo no espermograma. Embora a evidência científica seja limitada quanto à fertilidade, o consumo alcoólico em alta dose – mais de duas doses de 20 ml de aguardente, por exemplo, por dia – pode acarretar efeitos adversos na fertilidade para ambos os gêneros.
Outro fator importante é o tabagismo, já que mulheres tabagistas têm o dobro de risco de apresentarem infertilidade. O cigarro pode diminuir a quantidade de óvulos, podendo também causar alterações genéticas nessas células. Além disso, gestantes tabagistas têm maior risco de gravidez nas trompas e de aborto.
Atividade Física e fertilidade
A prática de atividade física moderada é uma grande aliada para combater problemas de infertilidade. Isso acontece porque ela pode evitar o sobrepeso e auxiliar numa rotina de vida mais saudável, entretanto, os exercícios físicos não podem ser extenuantes. Homens que se exercitam de forma moderada, em torno de 3 dias por semana, com duração de até 1 hora, apresentam melhores parâmetros espermáticos do que homens que praticam atividade física extenuante ou atletas.
A regra das atividades físicas moderadas também serve para o público feminino. Mulheres que praticam atividade física extenuante, em torno de 5 horas por semana, também podem exibir alterações no sistema reprodutor. Isso acontece devido à maior demanda energética, que acaba alterando a função hipotalâmica, com consequente distúrbio menstrual.
Embora a relação do estresse com a infertilidade nos homens não seja comprovada cientificamente, percebe-se que ele pode diminuir a concentração espermática, a capacidade de se moverem e a morfologia dos espermatozoides.
Em relação às mulheres, o estresse excessivo pode acabar alterando a função do hipotálamo, que culmina em alterações menstruais e ovulatórias. Nesse contexto, práticas que diminuem o estresse, como atividade física ou terapias psicológicas, poderiam melhorar as taxas de gestação.
São vários fatores podem causar problemas de fertilidade; entre as causas conhecidas a mais comum é a falha na ovulação, isto é, a anovulação, consequência de alterações hormonais (endócrinos), como a síndrome dos ovários policísticos (SOP) e problemas com as glândulas tireóide e pituitária, doenças psiquiátricas, a exemplo da anorexia nervosa, seguida de Doenças do sistema reprodutivo, como infecções, trompas de Falópio bloqueadas, e endometriose . (3)
Com relação aos fatores masculinos, entre as causas conhecidas estão alterações do esperma (líquido esbranquiçado, secretado por diferentes glândulas genitais masculinas, que contém os espermatozoides). (3) Em geral são associadas a sequelas oxidativas decorrentes de infecções, varizes na bolsa escrotal, conhecidas como varicocele, alterações hormonais e até mesmo exposição à poluentes ambientais.
Portanto, as causas da infertilidade são diversas e podem ser femininas, masculinas ou devidas à associação de dificuldades dos dois componentes do casal. Atualmente, é estimado que cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher, cerca de 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas. No entanto, a maior parte é perfeitamente tratável.
Com a assistência adequada, a maioria dos casais pode vencer esses obstáculos e realizar o sonho de formar uma família, além de reduzir o desgaste emocional.
(2) C. Gnoth, D. Godehardt, E. Godehardt, P. Frank‐Herrmann, G. Freundl, Time to pregnancy: results of the German prospective study and impact on the management of infertility, Human Reproduction, Volume 18, Issue 9, September 2003, Pages 1959–1966, https://doi.org/10.1093/humrep/deg366
(3) https://www.nhs.uk/pregnancy/trying-for-a-baby/how-long-it-takes-to-get-pregnant/
(4) https://www.reproductivefacts.org/resources/infographic-gallery/
(5) https://sbra.com.br/noticias/informacao-e-saude-junho-mes-de-conscientizacao-da-infertilidade/
Texto escrito por Dra. Janice Dolabela, Médica na Art BH Medicina.